sexta-feira, 7 de dezembro de 2007



Da série "coloque as crianças na sala": Segue o texto do editor Marcel Stefano, do jornal Cruzeiro do Sul, para explicar essa lendária foto tirada ao lado do filho da dona Florinda:

"A vida de repórter é fascinante. A oportunidade de ir de um extremo a outro em pouco tempo é uma característica de poucas profissões. A de jornalista proporciona isso. Em 1996 ou 97, como em um dia qualquer, recebi uma pauta ao chegar no jornal.
Elaborada ainda em filetes de papel, a pauta dizia para eu ir até o auditório da Coca-Cola e entrevistar o ator Carlos Villagrán, também conhecido como Kiko, do seriado Chaves. Achei que era brincadeira. Assim começou uma das entrevistas mais divertidas que já participei.
Como a redação não tinha carro para todos, dei carona para o repórter Fábio Jammal Makhoul, que trabalhava no Cruzeiro do Sul comigo. No caminho, perguntei o que ele iria fazer. E então contei a ele sobre a pauta. O Jammal simplesmente pirou. Ele simplesmente abandonou a pauta que tinha a cumprir e seguiu comigo rumo à Coca-Cola.
Chegamos ansiosos. Queríamos fazer perguntas sobre os seriados que tanto acompanhávamos nas tardes poucos anos antes. De repente, surge o cara, vestido com roupas normais e disposto a falar sobre sua briga com Roberto Gómez Bolaños (Chaves) e sobre o seu circo que estava em Sorocaba.
Feita a primeira parte da entrevista, Villagrán entrou numa sala e dez minutos depois saiu vestido com seu terninho de marinheiro, meias puxadas até o joelho, como todo mundo o conhece. Era outra pessoa. Um ser totalmente atormentado. Com sua bola, fazia uma bagunça no auditório da Coca-Cola, que ninguém continha o riso.
E então, naquele momento começou a entrevista mais doida que poderia participar. Como o seriado Chaves foi gravado no final da década de 70, Kiko não lembrava muito de alguns detalhes dos episódios. O mesmo não podia ser dito de mim e do Jammal. Com nossos 22 ou 23 anos, eu e ele estávamos afiadíssimos sobre as histórias, de forma que um perguntava e - diante da dificuldade do Kiko responder - o outro já emendava a sugestão da resposta. E o Kiko aproveitava as deixas.
Lembro que o Jammal perguntou ao Kiko qual tinha sido sua pior travessura. Kiko pensou, pensou. E eu: "não foi quebrar o cano da Vila?". E o Kiko: "Isso, Isso" e emendou os detalhes.... seguido daquelas risadas e trejeitos absurdos. E assim foi, uma atrás da outra. Ao final do dia, estávamos satisfeitos e deslumbrados. Tinhamos conhecido e entrevistado um ícone de nossa adolescência e de lambuja tiramos fotos ao lado dele e ganhamos um autógrafo assinado como "Kiko". Escrevi duas matérias: uma entrevista séria com Villagrán (acho que saiu no Mais Cruzeiro) e outra entrevista com o Kiko, publicada no Cruzeirinho. Quase dez anos depois, digo com a mais absoluta certeza: aquele não foi um dia qualquer."
Crédito da foto: Arquivo pessoal/Marcel Stefano

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